segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Capítulo VI

VI

Eloise


Acordou com o som da música e das risadas, no salão da taverna a festa já havia começado e parecia haver homens de todos os tipos e lugares. Aventureiros, mercenários e muitos anões enchiam seus copos de cerveja num grande barril sobre o balcão. Em um canto um grupo tocava animadamente e os banjos e tambores se combinavam em canções que animavam os incansáveis dançarinos. Um pequenino, ainda menor que os anões, guiava os mais exaltados até fora da taverna e lá permaneciam até que se livrassem de todo excesso de cerveja e vinho, quando então voltavam para a festa, mas eram impedidos de ter acesso novamente ao barril. Oliver estava sentado, cercado de mulheres e parecia ser o único a falar todo o tempo, o que não era de se espantar, dado o seu costume de negar esse direito aos outros, mas foi outra figura que chamou-lhe a atenção, uma mulher sentada sozinha em uma das mesas. Era de uma beleza admirável, com o olhar perdido como se olhasse para algo distante e como se estivesse sozinha ali naquele lugar, não se incomodando com o barulho e a dança ao redor. Fez menção de aproximar-se, mas antes que atravessasse o tumulto do salão a mulher se foi como se nunca estivesse naquele lugar. Durante aquela noite sua lembrança permaneceu com Sirgoth.

Pela manhã havia garrafas e copos espalhados e os empregados trabalhavam duro na limpeza e na arrumação da taverna, que já começava a encher-se novamente.

- Como passou a noite Senhor? Eu o vi poucas vezes – Disse Oliver, sentado junto ao balcão.

- Estava bêbado demais para me ver Oliver! O lugar é agradável quando não se deseja descansar. Diga-me, ontem enquanto dançavam havia uma bela dama bem ali naquela mesa, sozinha, de longos cabelos escuros e de um olhar triste. Conhece-a?

- Eloise? Claro! Todos nesse lugar a conhecem. Foi desposada do imperador de Antares. Seu erro foi lhe ter dado um herdeiro. O imperador achou que isso foi proposital e expulsou-a da corte. Bem, segundo uma lei antiga, nenhuma mulher tocada pelo imperador pode ser tocada por outro homem, ao menos dentro de seu reinado, e o castigo para Eloise foi ainda mais severo: ninguém na cidade pode dirigir-lhe a palavra ou dar-lhe qualquer ajuda – Nesse momento Oliver aproximou-se do ouvido de Sirgoth. – Na verdade ouvi dizer que o taverneiro lhe dá o que sobra da comida da noite, depois que todos saem. É um bom homem, a taverna lhe dá bons lucros, mas se é descoberto a sentença certamente será a masmorra. Ela agora tem morado em um velho casebre abandonado na saída da cidade.

- Como você saber de tanta coisa mascate?

- É a vida de um errante Senhor. Ganho minhas moedas vendendo e para vender é preciso contar histórias. As pessoas gostam disso. Aqui mesmo já juntei muita coisa para vender e agora devo seguir adiante, estou querendo ir para Tyr, vai haver uma grande festa lá na chegada do verão e as vendas serão boas. O Senhor tem algum destino certo?

- Ainda não! Vou ficar aqui por um bom tempo.

As lutas no coliseu não eram exatamente como Agohot havia dito ou então alguém teria resolvido trazer de volta os antigos gladiadores e as matanças, porque eram pobres coitados que Sirgoth viu lutarem pela própria vida contra animais ferozes e homens armados. As imagens causaram-lhe repugnância e não demorou muito para que abandonasse o lugar e desejasse logo abandonar a cidade. Quando caminhava de volta para a taverna viu novamente a mulher da noite anterior, que com um grande esforço retirava água do poço e a depositava em frascos dentro de uma grande cesta.

- Posso ajudá-la? – Tomou-lhe com delicadeza a corda e retirava a água do poço.

- Deve ser um louco ou um forasteiro desavisado – recusou-se a pegar água que Sirgoth havia tirado e ergueu a cesta.

- Não sou louco e nem sou desavisado, mas sou sim um forasteiro. Meu nome é Sirgoth e não sigo os costumes desse lugar.

- Então se fosse você cuidaria de guardar as próprias costas - Notou então os soldados que o observavam, admirado de que se pudesse gastar o soldo com homens para vigiar e atormentar a vida de mulheres. Que espécie de homem poderia governar aquele lugar.

E os problemas de Sirgoth ainda nem haviam começado, estava fascinado por Eloise e a todo tempo pensava em como poderia ajudar aquela mulher, até que em uma noite, parado na janela, olhando o movimento que ia se acabando na madrugada, pode ver quando uma figura se esgueirou nas sombras para dentro da taverna e antes que fizesse menção de descer como havia planejado percebeu que os soldados a seguiam, três entraram na taverna e o quarto permaneceu na porta. Desceu correndo as escadas e antes que chegasse ao salão ouviu gritos de desespero, um soldado havia atingido o taverneiro que estava caído e o ameaça com uma espada, enquanto outro segurava Eloise sobre a mesa para que o terceiro rasgasses sua roupa. Um ódio súbito tomou conta de Sirgoth.

- Pensei que um decreto proibia que ela fosse tocada, imundo! – O terceiro soldado largou-a então e voltou-se para ele.

- Ora! Se não é o gentil galante do poço – Disse voltando-se e sorrindo com sarcasmo para o outro soldado. – Acho que antes do taverneiro o decreto já havia sido quebrado, vão ser dois por um esta noite!

- Você poderá tentar, mas não pense que será como atacar donzelas ou taverneiros! – Então fitou fixamente a lâmina da espada que se tornou vermelha como se naquele instante você retirada da forja. Assustado, o soldado arremessou-a para longe e retirando uma faca avançou, enterrando-a pouco abaixo do ombro de Sirgoth que sentiu a dor descer-lhe pelo corpo e sem outra alternativa revidou fazendo com que o fogo tomasse conta de todo corpo do soldado. O homem que havia ficado do lado de fora entrou nesse momento e junto com que o que estivera segurando Eloise esforçou-se para apagar o fogo do corpo do amigo. Sirgoth aproveitou e tomando o taverneiro pelos ombros, seguiu para os fundos da taverna imaginando uma possibilidade de fuga, mas o homem sangrava e era excessivamente pesado mesmo com a ajuda de Eloise.

- Não me ajude mais homem, não há como sair daqui! Fuja com Eloise. Ela o levará a um lugar seguro e não volte a Amion ou a Antares tão cedo – Eloise chorava convulsivamente e ficava claro o forte laço que havia entre os dois, ouviram o barulho dos soldados que os perseguiam e partiram tomando um dos animais que ficavam amarrados na saída de trás da taverna, desamarrando e assustando os demais para que não fossem usados em sua perseguição. Pararam em um pequeno casebre na saída da cidade, Eloise entrou e voltou com um pequeno embrulhado em mantas, por um instante Sirgoth lembrou-se dos três pequeninos que haviam salvado há muitos anos nas montanhas bárbaras de Arkedun, então, seguindo a direção indicada por Eloise, partiram da cidade e foram em direção às Montanhas de Chalff.

As montanhas eram territórios livres e não mais faziam parte do Reino de Antares, havia ali um pequeno casebre de caçadores onde pararam e se alojaram. Eloise conhecia bem o lugar e mais tarde explicou a Sirgoth que quando criança costumava sair para as caçadas com seu pai e sempre faziam uso da cabana que ele mesmo havia construído.

Naquele lugar de paz, Sirgoth abandonou suas buscas e seus ideais de viagem e se entregou a longos anos na companhia de Eloise e Heranon. Periodicamente desciam as províncias do Reinado da Caledônia, onde se tornaram conhecidos. Participavam das festas anuais, reabasteciam-se do necessário para sobreviver ao inverno rigoroso e retornavam para as montanhas.

Heranon cresceu a sombra do amor de Sirgoth e Eloise, aprendeu com seu tutor as artes da magia do fogo e desenvolveu-a com impressionante habilidade, mas quando se sentavam no topo da colina durante as tardes e Sirgoth contava-lhe as histórias dos Reinos antigos e de lendas passadas, via uma nuvem de desejos cobrir-lhe o olhar e sabia que sua alma desejava distanciar-se daquele lugar, como a sua própria havia desejado um dia. Em seu trigésimo sétimo ano de vida Eloise adoeceu e embora Sirgoth tenha com ela percorrido até mesmo Amion, onde havia jurado jamais voltar, seu tempo havia terminado e para ela pai e filho fizeram uma belíssima sepultura sobre a sombra de uma grande árvore e o desejo de não mais permanecer naquele lugar tomou o coração de Heranon. Para Sirgoth era chegada a hora de contar-lhe a verdade sobre seu pai. Sentaram-se pela última vez nas colinas durante à tarde e a alma de Heranon tornou-se amarga por um segredo que lhe foi ocultado durante todos os anos em que estivera com sua mãe. Partiu em uma manhã de sol levando seus únicos e poucos pertences, sem dirigir-lhe nenhuma palavra.


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5 comentários:

Anônimo disse...

nossa, esse capitulo foi bem legal.. mas ainda não termnou né? abraços, fiquei um tempo sem postas, por que to em fase de vestibular.


abraços, rê - dark.

Unknown disse...

Agora sim o conto vai ficar bom. Chegou o mais foda de todos os personagens "Heranon" hehehehehe

JPBernardes

Anderson Fontes disse...

Vai continuar sim e agora em uma segunda fase, mas preciso folgar aqui!!

Unknown disse...

Menino, pára com esse mestrado e foca só na estória!uahuahauhauhau Brincadeira. Esse Heranon era meio urso né, mas era um bom sujeito e bruto tb!!!heheheheh

Unknown disse...

Sai fora com esse negócio de urso!!! Bem, na verdade o amigo urso era o Gwideon. heuahauaheua
Bem...Todos eram muito fodas!!!!