domingo, 11 de novembro de 2007

Capítulo IV

IV

Despedidas

As últimas noites pareciam as maiores que haviam vivido, cavalgaram sem descanso e Sirgoth não aparentava nenhuma melhora, ardia em febre e suava a todo tempo. Todos os dias Linian cuidava de suas feridas, mas havia algo provocado pela mordida do homem-lobo que parecia não deixar que curasse. Foi ao fim de uma tarde, quando o sol quase já desaparecia no horizonte que viram ao longe as torres de um forte e o castelo que não poderia ser outra coisa a não ser a escola que procuravam. Já estavam bem próximos quando viram uma tropa montada aproximar-se velozmente. Os homens trajavam uniformes e carregavam patentes do exército de Hermine, pararam a uma distancia de três metros e sacaram suas armas, eram quatro soldados e três arqueiros. Um dos soldados que usava uniforme tradicional dos lideres do exército Herminiano aproximou-se de Linian embainhando sua espada.

- Senhorita! Estivemos procurando-a por toda a região. Espero que não esteja ferida! – Disse, voltando-se em seguida aos soldados que aguardavam ordem.

- Levem o bárbaro. O que estão esperando?

Umaru, que até então permanecia sem compreender o acontecido, saltou velozmente do cavalo.

- Nenhum homem colocará as mãos sobre mim!

No exato instante em que falava Linian interveio ainda sem descer de sua montaria.

- Pare! Há um mal entendido aqui. Esses homens salvaram minha vida quando seu exército falhou general. São meus amigos!

- Mas Senhora! Como pode ter um amigo negro das tribos bárbaras e quem sabe até mesmo escravo?

- Diga mais uma palavra General e vai passar seus dias trabalhando na cozinha! Leve este homem doente para dentro – agora não se via mais em expressão doce e inocente que Sirgoth e Umaru haviam conhecido, mas assemelhava-se a uma rainha sentada em seu trono a dar ordens para seus súditos. Imediatamente os soldados desceram Sirgoth e o levaram para dentro.

Vários homens haviam permanecido no portão enquanto tudo acontecia, trajavam túnicas marrons e usavam grandes medalhões de três folhas, símbolos da gnose e da sabedoria. Um homem mais velho, de barba longa e cinzenta veio até Linian para recebê-la.

- Seja bem-vinda Senhorita! Não havíamos esperado sua chegada, mas mandarei que tudo seja providenciado. Acompanhe-me por gentileza. Seu amigo será acompanhado até seus aposentos.

A escola era um belíssimo lugar, com arquitetura rústica e uma tapeçaria vermelha cobrindo os principais corredores, decorado com candelabros das mais variadas formas e tamanhos. Todos os dias, pontualmente no fim da tarde um dos homens passava pelos corredores e trocava todas as velas. Durante o dia, espaços abertos construídos no teto permitiam a entrada da luz do dia que iluminava os corredores. O quarto onde Linian ficara hospedada era pequeno, mas aconchegante e tranqüilo como o restante do lugar. As três refeições diárias eram servidas em um grande salão com uma ampla mesa e trinta assentos. Agohot, o líder e mais velho dos sábios que havia recebido Linian no portão, era quem mais conversava e pacientemente andava todos os dias pelo lugar mostrando-lhe cada canto conhecido e conservado com orgulho. Umaru aparecia poucas vezes desde que haviam chegado e preferia alimentar-se quase sempre junto aos empregados, mas todas as manhãs subia aos aposentos de Sirgoth para acompanhar sua recuperação. Os pupilos de Agohot trataram-no com ervas durante uma semana, estando dia e noite um homem a beira de sua cama, na esperança de que acordasse, até que finalmente ao fim de uma tarde acordou demasiadamente suado e chamando por Linian que imediatamente foi levada a sua presença.

- Enfim, acordado! Como esta se sentido?

Enquanto falava Linian carinhosamente tocava as mãos de Sirgoth que parecia ainda atordoado. – Melhor que descanse um pouco mais, você esteve desacordado por quase vinte dias, desde que foi atacado pelo homem-lobo. Parece ter contraído o que Agohot chama de Licantropia.

- Sim! Eu me lembro do homem do homem-lobo, mas quem é Agohot e onde nós estamos? – Enquanto falava Sirgoth buscava apoio em Linian para levantar-se no instante em que a porta se abriu e surgiu a figura de Agohot e dois homens que dele haviam cuidado.

- Calma! Estamos seguros na escola e este é Agohot, o homem que gentilmente nos hospedou. Por que não deita novamente? Então poderá ouvir tudo que se sucedeu até chegarmos aqui.

Por horas permaneceram ali, Linian contando a história do menino do estábulo, sentada ao lado de Sirgoth e Agohot ouvindo atentamente a tudo, sentado pacientemente em uma cadeira, ao lado da cama. Por fim chegou também Umaru, com expressão de surpresa e satisfação.

- Salve nobre feiticeiro! Pensei que dormiria até o dia de minha partida – Disse Umaru.

- Partida? Do que está falando bárbaro? Ainda temos muito que fazer. É só me ajudar a levantar dessa cama – Enquanto falava Sirgoth esforçava-se uma vez mais por levantar-se.

- Fique quieto homem! Amanhã, logo pela manhã, você poderá levantar-se e caminhar normalmente – Desta vez foi Agohot quem o interrompeu em sua tentativa de erguer-se, ao que obedeceu prontamente e deitou-se novamente.

Na manhã seguinte Umaru e Sirgoth caminharam pelos jardins da escola e conversaram durante toda a manhã. Era um lugar belíssimo, decorado com flores das regiões selvagens e plantas rasteiras cultivadas todas as manhãs pelos homens que retiravam as mudas de uma grande estufa e as transferiam para os jardins.

- Diga-me Umaru! Por que a pretensão de partir? Nós poderíamos seguir para o sul, depois que empreender meus estudos nesse lugar.

- Não, nobre amigo! Receio que meu destino seja no Norte, ainda que seja uma região de guerras. Tenho que reencontrar meu povo, minha mulher e meus filhos. Se a guerra não houver terminado receio que seja preciso mais uso de minha espada do que antes havia previsto.

- Nunca me falou de filhos!

- Na verdade temo que já não os tenha, mas ainda assim devo procurar meu povo. Partirei amanhã pela manhã, antes do sol nascer.

- Diga-me ainda uma coisa. Sempre soube que Bárbaros possuem predileção por machados e armas de peso, mas você parece afeiçoado a espada.

- Ela se afeiçoou a mim, por trazer lembranças que não desejarei esquecer. Quando esse aço se quebrar eu o guardarei e então farei uso de um bom machado. E por falar em bons machados, se planejasse ficar aqui por mais dias faria eu mesmo um belo e afiado machado na forjaria da escola, mas tenho que partir.

- Que os Deuses Bárbaros o protejam!

Ainda conversavam quando Linian surgiu montada, trazendo consigo um outro animal selado.

- Que tal cavalgarmos pelos arredores da escola? Vi belas montanhas da janela de meus aposentos e está uma bela manhã.

Cavalgaram pelas montanhas sentindo o ardor fresco e o cheiro das flores da primavera que floresciam formando um mar colorido sobre as copas das árvores. Conversaram e ao final da tarde banharam-se em uma cachoeira de três quedas, que terminava em um grande e sereno lago, aonde os pupilos de Agohot vinham buscar água todas as manhãs. Na manhã seguinte Umaru partiu, como havia prometido, pouco antes do nascer do sol e sem despedidas. Linian ainda o viu partir já sentindo uma saudade suave do amigo com quem convivera por tão longa jornada.

Nos meses seguintes Linian e Sirgoth passaram a se encontrar apenas pelas manhãs, quando saiam e caminhavam até o lago onde estiveram com Umaru pela última vez. No que restava do tempo, Sirgoth mergulhava nos mapas e livros da biblioteca, estudando tudo que havia mudado desde que fora preso, imaginando em que direção o destino o levaria. Abaixo da Caledônia, ao Sul, estava a planície e o reino de Antares, que outrora fora um reino de Bárbaros e Gladiadores. Segundo Agohot, os jogos de luta já não aconteciam mais, deram lugar às corridas de bigas, que embora mais civilizadas nada tinham de menos violentas. Sirgoth decidiu que este deveria ser seu destino e dali decidiria por onde começar sua jornada em busca de uma escola de magia.

Partiu em uma manhã cinzenta de outono, levando sua pouca bagagem e algumas moedas que ganhará prestando serviços de escriba para Agohot. Linian o acompanhou até a saída dos grandes portões da escola.

- Ouvi noticias de que a guerra está preste a terminar. Deve logo retornar a sua casa – Disse-lhe enquanto caminhavam.

- Sim! Mas não me preocupo com minha casa e sim com você, que muito significou para mim e agora parti como se nunca tivesse existido – Enquanto falava, Linian tirou do pescoço um lenço vermelho, colocando-o ao redor do pescoço de Sirgoth.

- Também não me é prazeroso partir e deixar-te, mas nossos rumos não poderiam seguir juntos. Embora hábil com a espada e cheia de coragem, teu destino é a corte e a nobreza. És uma princesa, Linian, não uma guerreira. És uma bela e corajosa princesa. Devo ir agora e se encontrar o que procuro, então talvez retorne a Hermine para vê-la novamente.

As lagrimas correram aos olhos de Linian, enquanto Sirgoth sumia na estrada ao longe. Jamais havia conhecido homem igual, mesmo entre o luxo e as riquezas da casa de seu pai.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho que o Sirgoth deveria voltar, encontrar o menino que tem o futuro traçado com o dele, e os 2 conseguirem reerguer a cidade, e lutar contra Arkedun.. Dai com a vitória fazer uma aliança com o povo barbaro e Hermine.. E dominarem a provincia sul e norte =D

Unknown disse...

Mas não é isso que o Destino planejou de imediato para Sirgoth, e como se sabe, não se pode fugir dele. Rapaz, estou doido pra ver aquele cara foda, como é mesmo o nome dele, Geydion né, entrar na eestória.hehehehe Abraços

;)