quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Capítulo V

V

A Caminho de Antares

O caminho para Antares era um caminho duro, de poucas vilas e de poucos lugares não-hostis para se descansar e alimentar. A própria desertificação transformara o caminho entre os reinos de Caledônia e Antares em refugio para ladrões e escravistas. A oeste ficava uma grande província do reino de Covenant, formada as margens do Rio Dourado, batizado pelos antigos com esse nome pelo brilho dourado de suas águas no contato da areia com o sol escaldante do deserto, habitada por andarilhos e escravistas que se mudavam á cada verão, quando o Rio secava e a fonte de água mais perto se tornava o Rio de Antares, guardado em seu leito pelos exércitos de Antares para evitar os agrupamentos de andarilhos e forasteiros. A leste ficava a sombria e misteriosa Espinha de Névoa, um extenso complexo de montanhas cruzando todas as terras de um lado a outro do continente, dividindo ao meio o grande deserto, coberta por uma névoa espessa que não desfazia em nenhuma época do ano. Mesmo a visão distante das montanhas causava calafrios em Sirgoth, que tomara conhecimento de muitas lendas sobre as criaturas que habitavam o lugar e que vez por outra desciam próximo aos reinos civilizados na busca de carne humana para se alimentarem.

Não estava, no entanto, em seus planos, o oeste ou o leste, mas seguia para o Sul, para o Reino de Antares. Já havia caminhado no deserto por quase três semanas quando chegou finalmente à estrada, indicação de que estava próximo de seu destino, viu surgir ao longe carroças e homens a cavalos, temeu e cogitou se deveria desviar seu caminho que sabia estar ainda fora da proteção de Antares, mas pensando na possibilidade de já ter sido avistado seguiu adiante. Eram quatro homens montados, vestiam trajes comuns ao deserto, com gorros que serviam para proteção do rosto nas tempestades de areia. Caminhando estavam dois homens, carregando sobre o ombro um terceiro que estava amarrado a uma estaca, exatamente como o próprio Sirgoth ao ser capturado um dia pelo exército de Arkedun, e a lembrança daqueles dias retornou por um instante a sua mente.

- Saudações forasteiro! Não teme andar sozinho por estes caminhos? – perguntou um dos homens que estavam montados.

- Tenho meus próprios meios de defesa, andarilho! Para onde o levarão? – Enquanto falava, Sirgoth soltava com suavidade a rédea e tomava nas mãos um punhado dos grãos de areia que trazia no bolso. Já havia percebido o movimento de um segundo homem que sacava discretamente a lâmina de uma faca.

- É um ladrão do deserto! Vamos levá-lo para o acampamento e amanhã vendê-lo na próxima semana no leilão em Antares. Têm interesse por comprar escravos forasteiro?

No momento em que falava o homem, que antes sacava a lâmina, saltou do cavalo em direção a Sirgoth, que retirou do bolso a areia que segurava e jogou-a no ar. O pavor tomou conta dos olhares incrédulos dos algozes de Sirgoth, quando em seu lugar surgiu a imensa figura de um homem lagarto das montanhas, tendo nas mãos enormes garras, com mandíbulas escancaradas e ameaçadoras. Os dois homens que seguravam a estaca largaram-na e correram de volta pela estrada. O que antes partira com a faca na direção de Sirgoth estava caído e os dois homens ainda montados fugiram apavorados na direção dos outros. Os animais, no entanto permaneciam calmos, como se nada houvesse acontecido.

O homem amarrado à estaca e amordaçado estava apavorado. Sirgoth aguardou por um tempo até que o encanto mágico passasse finalmente desatou suas cordas.

- Obrigado Senhor, mas não me faça mal. Sou um pobre vendedor capturado por esses escravistas – Sua voz era trêmula.

- Então não é um ladrão?

- Não sou um ladrão Senhor! Estava de passagem no vilarejo que encontrará à frente quando esses homens chegaram. Eram mais de 40 homens, os outros devem ter tomado outra direção.

- Qual o seu nome homem e não fique me chamando de Senhor?

- Me chamam de Oliver Mascate Senhor? Trabalho por essas estradas vendendo papel e loções. Jamais fiz mal algum a alguém.

- É visível que não é mesmo capaz de fazer mal a ninguém.

Com as últimas palavras Sirgoth preparava-se para retomar a estrada quando Oliver pôs-se à frente do animal.

- O Senhor vai me deixar aqui?

- Já disse para não me chamar de Senhor e o que espera que eu faça?Que o ponha em meu animal e carregue-o como uma donzela?

- Na verdade era exatamente o que eu havia pensado!

- Esqueça!

- Mas Senhor! Conheço estas estradas e conheço Amion, a capital de Antares. Posso ser seu guia. Há muitos jogos lá sabia? Eu poderia lhe indicar os melhores jogos e as melhores mulheres.

- Não estou interessado em jogos e mulheres mascate, mas pode subir. Preciso de um guia que conheça esta região – Esticou a mão ajudando Oliver a subir, desajeitado, no animal.

- Diga-me Senhor! É um feiticeiro? O que fez foi uma magia não foi? Foi uma magia que fez com se transformasse naquele homem lagarto não é mesmo? E o Senhor também faz raios e tempestades de fogo?

- Alguém já lhe disse que você fala demais Mascate? E pergunta demais. Sei alguns truques sim e aquilo não foi uma magia, mas um truque de feitiçaria. Também não me transformei em nenhum homem lagarto, mas o que viram foi o maior temor que havia em seus corações naquele instante.

A cada instante que cavalgavam a paisagem mudava e se tornava verde, árvores iam surgindo aos poucos pelo caminho, o deserto ia ficando para trás e o ar se tornou mais fresco e úmido. A caminho da capital Amion passaram por inúmeras cidades do reino de Antares, todas movimentadas e com grandes salões de jogos, confirmavam a justa fama que Antares matinha de ser o reino dos jogos e das mulheres, elas sempre superlotavam os salões, atrás de jogadores e de seus lucros. Oliver parecia sempre estar em casa a cada lugar que passavam, conhecia inúmeras pessoas que sempre o tratavam apenas por mascate e sabia exatamente em que lugar colocar seus pés de maneira segura, tornou-se uma companhia de viagem interessante, apesar de por várias vezes cansar Sirgoth com seu falatório e seu incansável repertório de curiosidades.

Por fim chegaram ao Rio de Antares e da ponte, guardada pelos soldados, avistaram os grandes muros que cercavam a capital. Por indicação de Oliver procuraram a mais confortável de todas as tavernas e para variar qual não foi a surpresa de Sirgoth ao notar que ele e o dono taverna eram velhos conhecidos e quem nem mesmo lhe eram cobradas refeições ou estádia. Certo momento não resistiu em perguntar-lhe:

- Então o golpe é este mascate? Traz os viajantes para cá e assim come, bebe e dorme sem pagar nada. Quanto já ganhou com isso?

- O Senhor deve saber como é difícil se viver por aqui. Cada um ganha a vida como pode – E foi a última observação que causou uma profunda irritação em Sirgoth.

- Só que com certeza você não sabia que os maiores preços de toda a capital são os daqui? Eu deveria ter lhe deixado onde te encontrei.

- Não diga isso Senhor! Posso conseguir bons preços aqui. E há ainda à noite que é sempre animada.

- Lembra do truque do homem lagarto Oliver? Se disser mais duas vezes a palavra “Senhor” vai passar um bom tempo coaxando como um sapo – A seriedade com Sirgoth falava fez que Oliver lançasse-lhe um olhar de espanto; Então, finalmente abriu-lhe um sorriso.

- É apenas brincadeira Mascate! Você é um bom homem.

- Além disso, desisto de tentar convencer-lhe a não me chamar de Senhor. Vou descansar e devo descer a noite.

O lugar era de fato aconchegante e da janela do quarto era possível ver o grande coliseu onde ocorriam os jogos e as corridas de bigas. Sirgoth pensou em conhecê-lo logo que fosse possível e enquanto olhava para a cidade foi tomado pelo sono e pelo cansaço da viagem e mesmo com todo barulho e movimento dos corredores adormeceu profundamente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Acabei de ler.. Esse me pareceu meio curto!
Mas muito bom, como os outros..

Essa magia que sirgoth mandou nos escravistas, era pra eles verem o maior medo deles? PQ o Sirgoth não usou isso contra os lobos?

Haha, abraços.

Anderson Fontes disse...

Você acaba de achar um furo na história...rissss...muito foda...certa coisas não tem explicação...kkk!!!Como não vou me render vamos lá...eu acho que Sirgoth não tinha o componente material da magia cotra os lobos!!!Pode notar que ele usa um pó paa realizá-la!!

Unknown disse...

hehehehehe
Ô mestre apelão!!!!
JPBernardes

Unknown disse...

Pode ser tb que a magia não afete a mente animal. Olha didido, tô te defendendo, mas num acostuma não hein!!!uahauhaua